Colatina, 19 de março de 2015.
Eu, Jan Christoph Lima da Silva, médico, funcionário socorrista clínico
do Pronto Socorro do Hospital Estadual Sílvio Avidos, em Colatina-es, venho
expor os fatos comigo ocorridos na última terça-feira, 17/03/2015, durante meu
plantão neste setor.
Chegando no referido Pronto Socorro pela manhã, pude perceber corredores
lotados de pacientes internados, cadeiras ocupadas com pacientes em observação,
excedendo a capacidade de lotação do setor. Com o decorrer do dia, à medida que
foram chegando mais pacientes, graves ou de baixa gravidade, estes foram sendo
atendidos, de forma que certa hora não haviam mais condições físicas e de
estrutura material como macas, suportes de soro ou cadeiras para alocar estes
pacientes, os quais foram aguardando em pé, alguns segurando o próprio frasco
de soro, atingindo uma situação que colocava em risco a vida dos pacientes e
desrespeitava o serviço de todos os profissionais da área da saúde que ali
trabalhavam, visto que condições adequadas de trabalho para todos nós não
estavam sendo asseguradas.
Certa hora do dia, ao perceberem que não havia como atendermos os
pacientes no tempo adequado para garantir a vida destes, segundo preconiza o
Protocolo de Manchester (protocolo de acolhimento e classificação de risco
preconizado pela Organização Mundial de Saúde e utilizado neste hospital) houve
revolta por parte da população que esperava na recepção, o que é fato comum nos
prontos socorros do país, e extrema preocupação por parte da equipe de que um
desfecho funesto viesse a ocorrer.
Ao receber uma ligação da emissora A Gazeta, me prontifiquei a dar
explicações para o que estava ocorrendo no meu plantão, o que é dever de
qualquer médico responsável por seu plantão médico, uma vez que cada um
responde pelos atos e ocorrências durante seu período de plantão. Assim feito,
forneci a entrevista ao canal de televisão, expondo os fatos acima citados.
Entretanto, durante a entrevista, fui interpelado pelo Diretor Geral deste
hospital, Dr. Francisco Vieira, que impediu a progressão das filmagens, me
intimidando e constrangindo-me a parar de gravar.
Após este ocorrido, fui informado de que seria instaurado um processo
administrativo contra mim, por eu ter infringido as normas do hospital. Não
havendo mais o que ser dito, retornei ao meu posto de trabalho e ali permaneci
até o final do meu plantão, às 07 horas da manhã do dia seguinte.
Isto posto, questiono às autoridades executivas, legislativas,
judiciárias e médicas do Estado do Espírito Santo, se este diretor aqui
citado, que fere o código de ética médica ao permitir más condições de trabalho
e de atendimento aos pacientes, que ditatorialmente apunhala a liberdade de
expressão em rede estadual impedindo que eu concluísse a entrevista a ser dada,
utilizando seu cargo superior para me constranger a parar de gravar, que tenta
esconder as deficiências do sistema público de saúde ao invés de assumir e
tentar melhorá-las, novamente questiono: este diretor é o REPRESENTANTE
DO GOVERNO para dirigir este hospital rumo a um futuro de respeito aos
direitos humanos e a uma melhor saúde para os cidadão que dele dependem? E
mais: quais são as reais intenções deste diretor, que ao mesmo tempo em que
dirige este HOSPITAL PÚBLICO ESTADUAL, também é DIRETOR DO
MAIOR PLANO DE SAÚDE DESTA REGIÃO?
Em tempos de crise como a que estamos vivendo neste país, espero que ao
menos no estado do Espírito Santo, a moral, a ética, os direitos humanos e a
honestidade reinem sobre nossas instituições.
Jan Christoph Lima da Silva - Médico
Nenhum comentário:
Postar um comentário